terça-feira, 27 de agosto de 2013

Minha Terra


                           
                             "Lá, na minha terra, quando
                              O luar banha o potreiro,
                              Passa cantando o tropeiro,
                              Cantando, sempre cantando;
                              Depois, avista-se o bando
                              Do gado que muge, adiante;
                              E um cão ladra bem distante,
                              Lá, bem distante, na serra;
                              Nunca foste à minha terra?!

                              Enfrena, pois, teu cavalo,
                              Ferra a espora, alça o chicote
                              E caminha a trote, a trote,
                              Se não quiseres cansá-lo.
                              Ainda não canta o galo,
                              É tempo de viajares.
                              Deixarás estes lugares,
                              Iras vendo novas cenas
                              Sempre amenas, muito amenas.

                             O laranjal reverdece,
                             E ao disco argênteo da lua,
                             Logo os olhos te aparece
                            A estrela deserta e nua."

                                                        Lobo da Costa

Um comentário:

Professor Carlos Eugênio Costa da Silva disse...

Estas estrofes, são fragmentos do primeiro poema de cunho regionalista do Rio Grande do Sul, intitulado Lá... composto por Francisco Lobo da Costa em 1874 em São Paulo e dedicado a seu amigo Martim Francisco Junior. Há uma inversão de versos e algumas palavras, nesta publicação do livro "Criança brasileira: terceiro livro de leitura, edição especial para o Rio Grande do Sul, Theobaldo Miranda Santos, Agir: 1950, Rio de Janeiro", como se pode ver ao compara-la com a publicada em "Auras do Sul - 1888"

Lá...
(Francisco Lobo da Costa)

Na minha terra, lá…quando
o luar banha o potreiro
passa cantando o tropeiro,
cantando…sempre cantando…
depois descobre-se o bando
do gado que muge adiante,
e um cão ladra bem distante…
Lá… bem distante!…na serra!
– Nunca foste a minha terra?


Enfrena, pois, teu cavalo,
ferra a espora, alça o chicote,
e caminha a trote…a trote…
se não quiseres cansá-lo.
Ainda não canta o galo,
é tempo de viajares,
deixarás estes lugares,
irás vendo novas cenas,
sempre amenas…muito amenas!


O laranjal enverdece
ao disco argênteo da lua,
e a estrada deserta e nua
logo aos olhos te aparece…
Uma figueira ali cresce
beijando a fralda ao regato:
e lá… no fundo do mato,
arde o rosado e fumega
a vassourinha, a macega…


Se um grito de fero açoute
estruge no ar austero,
não tremas! É o quero-quero
que vem te dar a boa noite.
Um conselho porém dou-te:
um pouso tens a teu lado;
mas não lhe batas…cuidado!
Antes procura outros meios
dormindo sobre os arreios.


Não que se negue a tais horas
agasalho ao forasteiro,
mas, porque, foras primeiro
assustado sem demora!
“Ó Juca” põe-te pra fora! “
solta o cão…traz o trabuco…”
“matemos este maluco!”
para no fim do rebate
ir contigo tomar mate.


Logo ao romper da alvorada
põe a soga o teu cavalo:
podes passar-lhe um pealo,
uma maneia trançada,
depois vai pedir pousada;
de dia nada receias;
verás meninas sem meias…
“Eh pucha!” que lindas moças
de pernas grossas…bem grossas!


Hão de fazer-te mil festas,
dar-te atenção e carícias,
porquanto minhas patrícias
são modestas, bem modestas!
Mil vezes os mimos destas
porque são filhos da estima.
Aceita-os, pois, e por cima
come o bom churrasco insosso,
que elas dirão que és bom moço!


À noite, escuso avisar-te,
dança-se a parca “Tirana”;
tira a primeira serrana
que não há de recusar-te,
ali, a um canto…de parte,
o velho fuma um cigarro;
de quando em quando um escarro,
ao passo que um mariola
arranha numa viola.


Não te espante os cavalheiros,
muitos verás de tamancos
outros de sapatos brancos
ou de “botas de terneiros”;
esses serão os primeiros
na “competência dos pares…”
nem te rias se escutares:
-”Eu danço “cá siá” Maruca,
“A Chica dança cô Juca!”


Ouvirás após cantiga
de versos de pés quebrados,
coisas de tempos passados
que talvez a rir te obriga;
se queres porém que o diga:
acho mais graça e beleza
naquela simples rudeza,
que neste folgar sem lei
de muita gente que eu sei.


Ali, verás como incita
o viver da solidão,
tomando o teu “chimarrão”
feito por moça bonita;
verás vestidos de chita,
muita vida em cada rosto…
Mas, se duvidas do exposto,
é fácil: – volta pra aqui,
e dirás se te menti.

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